top of page

Textos

Isabel Stilwell

Se nos abrissem a cabeça, como quem abre um ovo, em vez de sair gema e clara, caía lá de dentro um quadro do João Vaz de Carvalho.

Cristina Cordeiro

O gesto, a cor, a trama, o traço. As figuras surgem do nada, ao sabor das sensações que João Vaz de Carvalho vai passando para a tela. E fazem-nos sorrir.

António Avelar de Pinho (I)

O João é um menino de escola. Levado da breca, diabinho largado no pequenino mundo de brinquedos que ele próprio inventa dentro e fora das telas. Criança acanhada, de olhar inocente, adora pregar partidas, como quem não quer a coisa. E goza que se farta, o sonso, babando-se no bibe. Começa logo por este desconcerto: o João é escritor mascarado de pintor. Teve um desvio na idade da inocência e veio a cristalizar na melhor das ideias a da indecência, passou a escrever com pincéis, mudou de léxico e mandou às urtigas as regras gramaticais. Não satisfeito, pintou-se a ele próprio, metido em traquinices com amorosos monstrozinhos, fadas domésticas e fantasmas, estes últimos dissimulados nos brancos, nos pretos e nos vermelhos. E ali vive, no seu mundo, num puro gozo, rodeado de objectos delirantes, a tagarelar com uns e outros. Nas tintas. No solene rigor da galeria é prováve

Susana Neves

Estação de Santa Apolónia, quarta-feira, dia 17 de Outubro. Dirijo-me com passo decidido à bilheteira mais próxima e peço: “Quero um bilhete para o arco-íris”. O funcionário levanta o sobrolho e responde

João Lamas

Entre! É uma exposição de João Vaz de Carvalho. São quadros. Telas sem cenários. Fundos de cores que entram pelos olhos dentro matizadas por variações tonais que a mestria do pintor faz sobrepor como se o gesto do pincel encontrasse tão só a presença subtil de camadas de tule transparente.

António José Teixeira

Regalos de espanto. É. Digam a toda a gente....o João é um brincalhão. Está na cara. Nas caras. Basta abri os olhos. Ou piscar os olhos. Ás vezes, fechar mesmo os olhos. Tenho quase a certeza que o João pinta de olhos fechados para nos arregalar o espanto.

Alice Vieira

Era uma vez uma aldeia que eu não tive. Havia casas que voavam e andavam sobre rodas e tinham escadas que ninguém sabia onde iam dar, que é sempre o destino com que sonha qualquer escada que se preze.

José Paulo Leitão

Testemunho que o João Vaz de Carvalho vive num quintal murado ao qual se acede por um portão verde que nos quadros, por vezes, é vermelho. O João e todos os seres animados e os outros, aparentemente inanimados, movimentam-se entre o quintal e a rua e vice-versa, ora escorregando ora trepando pelo muro.

Sara Reis da Silva

Vencedor da segunda edição da Ilustrarte (2005) – Bienal Internacional de Ilustração para a Infância –, o artista plástico, cartoonista e ilustrador João Vaz de Carvalho (Fundão, 1958) é detentor de um estilo pictórico muito próprio, trazendo para a ilustração de textos infanto-juvenis algumas das técnicas e alguns dos traços que individualizam o seu trabalho artístico como pintor.

Ju Godinho e Eduardo Filipe

O mais fascinante dos mundos paralelos (que nunca se encontram com o nosso, a não ser no infinito) é a ténue possibilidade de existirem. E contudo, as únicas provas que temos da sua existência são aquelas que nos são trazidas pelos raros que descobriram as raras passagens de lá para cá.

Maria Teresa e João Vaz de Carvalho

Eu acho que os desenhos do meu pai são muito criativos e divertidos. Os desenhos do meu pai têm sempre um pouco a ver com crianças, desde os olhos esbugalhados às pernas curtas e cheias de vida.

Cláudia Moura

Dois homens tomam banho numa banheira no meio espaço público, ninguém os vê. Quatro velhas siamesas dançam de roda com torneiras nas mãos. Um osso de roer por perto não é necessariamente uma mensagem cifrada.

Fernando Paulouro Neves

Há cinco anos, em 2007, escrevi sobre a pintura de João Vaz de Carvalho. Tinha ido ao encontro do seu universo criador e o resultado foi uma emoção que o tempo não deixou mais de ampliar, como se a arte, nessa comunhão profunda entre o seu objecto

Cristina Taquelim

Quando o Paulo Monteiro me convidou a escrever sobre as ilustrações do João Vaz de Carvalho, confesso que hesitei. Apesar de acompanhar o que se vai criando ao nível da ilustração, não sou uma especialista na área e escrever sobre a obra sólida do João Vaz de Carvalho, é algo que requer muito saber, mesmo que seja em poucas linhas.

Ana Meirelles

De entre os mil sonhos havidos voar foi, por certo, o nosso sonho mais louco, mas perseguimo-lo porque o céu andou sempre embrulhado em doces mistérios e atrelado a milagres redentores.

Emílio Remelhe

Ao João Carvalho e ao Nuno Casimiro, a propósito do seu livro “O Mundo no Chão”. Os livros encontram-nos onde estamos.

Nuno Casimiro

Esta podia ser a reportagem sobre os habitantes de um prédio comum. Eis os seus moradores contra a planura do quotidiano. São pessoas de brincar que vão ajeitando as cabeleiras e a posteridade, essa que nos há-de devolver a imagem que queríamos mostrar.

Valter Hugo Mãe

Há dias, concluí que a obra do João Vaz de Carvalho me cria alucinações. Até hoje me lembro bem de estar na Galeria 111, no Porto, acompanhado pela Rui Brito, a pasmar diante das telas de uma exposição que nunca aconteceu.

António Avelar de Pinho (II)

Falemos de uma senhora chamada Genialidade, essa tão vilipendiada amante dos criadores loucos. Disse alguém que todo o génio leva uma tara para a cama. E a tara mete ideias loucas na cabeça do génio, digo eu.

Ana Loureiro

A surpresa do trabalho de João Vaz de Carvalho reside no humor com que encara a realidade da rotina diária, que recria na sua pintura, como nas histórias tradicionais provenientes de um universo paralelo.Da sua imaginação surgem situações insólitas que nos comovem e provocam uma estranha inquietude pautada pelo humor e a sátira com que o artista enfrenta os hábitos rotineiros. As suas personagens convidam-nos a entrar num universo particular que toca o inverosímil.

Claudio Hochman

Uma palavra travessa escapou-se dum livro e meteu-se num quadro. O pintor tentou apagá-la, mas não conseguiu. Pintou a palavra com tinta branca, mas no dia seguinte a palavra sobrevivia. O pintor falou com ela, ralhou com ela, mas a palavra insistia em lá ficar, imaculada. E a sua presença determinou tudo. O pintor não teve outra alternativa senão fazer os seus desenhos à volta dela.

Isabel Barros

Pelos Cabelos e Lições de Voo, dois espetáculos das Marionetas do Porto, criados a partir das séries de ilustrações tão inspiradoras de João Vaz de Carvalho com os mesmos títulos. Num mergulho a esse universo tão peculiar, construíram-se as marionetas e inventaram-se novos lugares. Lugares extraterrenos, onde pairam personagens insólitas, de olhares ausentes e alucinados, onde o humor e o absurdo se cruzam.

Rui Pelejão (I)

Abracadabra é, segundo linguistas afiados, a mais universal das palavras. Um possível berço da mística palavra é o aramaico e o seu significado: “Eu crio enquanto falo”. No caso de João Vaz de Carvalho, o Abracadabra mais adequado seria: “Eu crio enquanto desenho”. Mais do que Houdinis de feira, escapistas encurralados ou coelhos fora da cartola (ou fora da caixa, como agora se diz) a magia que o artista nos propõe é a mirabolante desconstrução das personagens.

Rui Pelejão (II)

O mundo, o país, a região e as pessoas em geral e as das redes sociais em particular andam com um humor cão. A rosnadela é a nova forma de comunicação humana.O caso não é para menos.Segundo estudos internacionais, a pandemia conduziu a um estado depressivo global, o que devidamente temperado com extremismos, fanatismos, intolerâncias e a triunfal marcha da ignorância, leva o bom humor pelo ralo. E, quando o humor definha, o espírito humano acabresta-se.

Paulo Fernandes

Felizmente, não temos a pretensão de tentar definir a obra de João Vaz de Carvalho. Até porque estaríamos votados ao fracasso se nos propuséssemos embarcar em tamanha empreitada. Sabemos que não é algo de uma gaveta só ou fácil de etiquetar.Ficamos ali, diante da sua obra, especados. Olhamos.

bottom of page